Especialistas dizem que sexo é menos frequente após o casamento


O casamento cria outras prioridades, mas é importante não ignorar a importância do sexo na relação




Casais reclamam, especialistas concordam e estudo alerta: depois do casamento, as pessoas têm relações sexuais menos frequentemente. De acordo com a psicóloga e sexóloga Maria Claudia Lordello, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a segurança de um relacionamento estável realmente faz diminuir a sedução entre os parceiros. O desejo pelo que já foi conquistado diminui muito e, com isso, os casais relaxam e começam a viver uma rotina onde o sexo passa a não estar entre as prioridades. "O outro está tão disponível que deixa de ter valor".



É preciso ficar atento e observar o outro com um olhar novo, sempre. O sexo diminui em qualquer relação duradoura. Cai no comodismo, o tempo passa, as pessoas envelhecem, diminui a descoberta e tudo isso nos deixa sem vontade de agradar.

Para a psicanalista Regina Navarro Lins, o fato de a pessoa saber que aquele cônjuge está aos seus pés, não olha para mais ninguém e não pode sair com outra pessoa leva ao comodismo. Na fase de namoro, por exemplo, os casais se preparam para o encontro, sentem mais insegurança de romper a relação e dificilmente se veem todos os dias. Tudo isso tende a acabar com o matrimônio, afinal, vivem juntos, sob um único teto, dividindo afazeres e preocupações --a chegada dos filhos é um fator importante, pois altera a vida do casal.




O psicólogo Oswaldo Martins Rodrigues Junior, diretor do Instituto Paulista de Sexualidade, explica que as mulheres têm um formato de desenvolvimento do desejo sexual que exige estímulos sobre os cinco sentidos. "No entanto, no dia a dia, tais mecanismos românticos são custosos, para homens e mulheres, e ao longo do tempo deixam de existir por uma questão de economia de energia por parte de ambos", afirma.

Se um quer transar e o outro não, a relação pode ser deixada para o dia seguinte ou para a próxima semana. "Essa disponibilidade acomoda as pessoas”, afirma Maria Claudia. E quem mais sofre com essa situação são as mulheres, pois elas precisam ser mais estimuladas do que os homens para ter vontade de transar. "Eles, muitas vezes, deixam de se empenhar para estimular a parceira”, diz a terapeuta sexual Imacolada Marino Gonçalves, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.



Uma pesquisa coordenada pela psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, do ProSex (Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), com o apoio da Pfizer, realizada em 2008, mostra que um relacionamento de longa data interfere negativamente no sexo na opinião de 34,8% dos homens e 33,4% das mulheres. "Quando o casal deixa-se levar pela rotina, o relacionamento sexual tende a ficar cada vez menos frequente e prazeroso", afirma a coordenadora do estudo.

No início, há aquele fogo e a paixão, mas eles passam e dão lugar a um relacionamento estável, em que a qualidade vale mais do que a quantidade. Romantismo, surpresas, fantasias e brincadeiras são bons temperos

Sexo é prioridade no casamento?

Segundo a pesquisa Mosaico Brasil, também realizada pelo ProSex em parceria com a Pfizer, para os homens, a atividade sexual só é menos importante do que ter uma alimentação saudável e o tempo de convivência com a família.

Já para a média das brasileiras, o sexo cai para o oitavo lugar, perdendo para alimentação saudável, tempo de convivência com a família, qualidade do sono, prevenção de doenças e cuidados com a saúde, trabalhar no que gosta, ter tempo para atividades culturais ou "hobbies" e convivência social.



Segundo Imacolada, o casamento cria outras prioridades, diminuindo o tempo para o sexo. Mesmo assim, é importante dar atenção ao problema, pois isso pode atrapalhar o relacionamento, principalmente se atingir casais jovens.

Mas a solução não é obrigar-se a transar. Muitas mulheres ainda preferem ceder e fazer sexo sem vontade a desagradar o parceiro, segundo Regina Navarro. "Transar por obrigação não favorece o tesão. O homem percebe e se sente rejeitado", diz ela, que afirma, ainda, que a diminuição do desejo não demonstra que o afeto está acabando. "Amor e sexo são coisas distintas". E, claro, se é o homem o desinteressado, a mulher também nota.

Como manter o vigor sexual após anos juntos

A sexóloga Maria Claudia afirma que é importante fazer um esforço para manter a criatividade e o tesão dentro de uma relação estável e longa. "A melhor maneira de não permitir que as coisas esfriem é entender que o casamento exige um planejamento. Não adianta acreditar que tudo vai durar para sempre. É preciso alimentar a vida conjugal".

O relacionamento não tem de ser só baseado no sexo. O sexo é um complemento. Quando se está junto com alguém, tem de respeitar os limites do outro, pois a rotina desgasta qualquer relação. Cada um deve reservar um tempo e um espaço para si. É importante sentir saudade




Preservar o encontro
Valorize o encontro do casal. E isso não significa, necessariamente, ter dia e hora agendados para ir ao motel. “É importante se produzir, se preparar e criar uma expectativa. O casal pode ir a um restaurante, um cinema e entrar em um clima de sedução”, afirma Maria Claudia. Lembre-se: é fundamental reconquistar o parceiro sempre e não transformar o sexo em uma atividade burocrática: que sempre começa e termina do mesmo jeito, no mesmo lugar, no mesmo dia da semana.




Fantasiar
“O sexo é uma brincadeira”, explica a sexóloga Maria Claudia. Segundo ela, a imaginação nem sempre precisa ser concretizada; pode ser algo que acontece apenas dentro da sua cabeça. “Se imaginar que o seu marido é o galã da novela te excita, deixe rolar, sem culpa”, afirma. Para Imacolada Marino Gonçalves, os homens são craques em agir assim. “Eles transam com a parceira e imaginam a mulher-fruta”, afirma. E isso não é traição, mas um estímulo para a criatividade, que contribui para o tesão.



Estimule suas ideias
“A criatividade é muito pobre e precisa de uma forcinha”, de acordo com Maria Claudia. Por isso, vale assistir filmes, observar fotos, entrar em uma história –picante ou romântica. O que é excitante muda de pessoa para pessoa. É preciso saber o que lhe agrada e se deixar envolver. “Não adianta esperar que o desejo vá surgir do nada. Busque o que desperta a sua vontade”,  Maria Claudia.




No início, o sexo é intenso e quase diário, depois de anos juntos, se continuasse assim, seria insuportável, pois não há criatividade que resista ao dia a dia. Com o tempo, o sexo deve ser mais criativo e divertido. O casal deve se dedicar para que o cotidiano não destrua as fantasias sexuais


Fale sobre suas vontades
Cada parceiro deve conversar sobre as práticas que lhe dão prazer, as que não dão, as experiências que gostaria de ter, os pontos do corpo onde quer ser tocado e arriscar novidades. Sem vergonha, homens e mulheres devem levar para a relação sexual as novidades que descobriram: vendo um filme, lendo uma reportagem, após uma conversa com um amigo. Quem for surpreendido, porém, não deve encarar a inovação com preconceitos. Liberte-se deles e prove o novo (desde que esteja dentro dos seus limites), como posições do Kama Sutra, por exemplo.



Cuide da aparência
Homens e mulheres tendem a descuidar de si mesmos após o casamento. E intimidade demais pode estragar o relacionamento e esfriar o sexo.  Isso desestimula o casal e quem os observa também. “Sentir-se desejado é um estímulo e tanto para a libido. Você pode levar uma cantada de uma pessoa na rua, mas chegar em casa com vontade de se realizar com o seu cônjuge”, exemplifica Maria Claudia.






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