A definição oficial de naturismo diz que ele se trata de um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, e tem por intenção encorajar o auto respeito, o respeito pelo próximo e o cuidado com o meio ambiente.
E também resume bem o que pensa José Antonio Tannús, presidente da Federação Brasileira de Naturismo.
Para quem não sabe como a coisa todo funciona, fica fácil atrelar a nudez com desejo sexual ou perversão. “Até na mídia a nossa presença é distorcida e caricata, justamente pela vinculação indevida entre naturismo, nudez e sexo. E isso afasta muitas pessoas do naturismo”, lamenta José. Para ele, nudez não é sinônimo de sexo.
Os praticantes do naturismo podem contar com um código de ética, que serve para definir o comportamento, gerar advertência, suspensão ou até exclusão do movimento. E esse código diz, por exemplo, que é falta grave ter comportamento sexualmente ostensivo ou praticar atos de caráter sexual ou obscenos em áreas públicas. O Código de Ética da FBrN foi escrito em 1996 e pode ser lido na íntegra no site www.fbrn.org.br.
Laércio Júlio da Silva, que é diretor financeiro da FBrN, escreveu num artigo que os praticantes do naturismo não enxergam a nudez sobre o ponto de vista de normas estéticas, ou seja, não traçam valores sobre corpos sem roupa. “Somos todos iguais na nudez, naturalmente imperfeitos, diferentes e por isso mesmo bonitos! Os valores sociais e matérias são deixados fora do espaço naturista e, a partir daí, a pessoa entra em um campo livre de imposições sociais que sufocam o ser humano. A prática do naturismo proporciona saúde física e mental”, escreveu.
Hoje, no Brasil, todas as praias oficiais de prática do naturismo foram assim definidas por meio de decretos municipais, já que a Lei do Naturismo do Brasil ainda não foi aprovada e está em tramitação no Congresso Brasileiro. “A maioria destas praias tem uma ou mais associações que ‘administram’ a praia, orientando os naturistas”, explica José.
No Nordeste, nas praias de Tambaba, na Paraíba, e de Massarandupió, em Salvador, o naturismo pode ser praticado sem caracterizar atentado ao pudor. No Sudeste, as praias de Barra Seca, no Espírito Santo, Olho de Bio e Abricó, no Rio, assim como as praias do Sul de Galheta, Pinho e Pedras Altas, em Santa Catarina, também são redutos naturistas.
“Existem também outras praias, ao longo de nosso litoral, onde o naturismo é tolerado, ou seja, é praticado sem que esteja reservado para este fim. Mas nestes locais o praticante do naturismo poderá ter problemas com os frequentadores ou autoridades policiais”, lembra o presidente da Federação.
Segundo ele, não existe uma estatística oficial sobre o número de adeptos do naturismo no Brasil. “O potencial brasileiro é enorme, pois temos um dos maiores litorais do planeta, a maioria em clima tropical, propício a prática do naturismo o ano todo. A FBrN possui hoje 31 entidades filiadas, sendo 19 associações, três comunidades naturistas e seis pousadas e recantos.
Maria Luzia de Almeida tem 52 anos e há 19 pratica oficialmente o naturismo
em Vitória, no Espírito Santo. E antes mesmo disso já ia até praias distantes e desertas, com o marido, praticar o nudismo. “Mas era uma situação ambígua: agradável pelo prazer da liberdade que a nudez nos proporcionava, mas tensa e perigosa porque sempre poderia aparecer alguém e sermos surpreendidos”.
A partir do verão de 1990, o casal conheceu o naturismo na Praia do Pinho, no litoral catarinense. Na época, eles gostaram tanto do que viveram por lá que acabaram por fundar a praia naturista de Barra Seca, em 1994. Então, lidar com o preconceito ficou um pouco mais complicado, já que era pública a preferência deles pela vida ‘ao natural’. “Desde que decidimos ter uma praia naturista, também decidimos que jamais nos esconderíamos. Entendemos que o naturismo é saudável e que esta filosofia de vida só nos acrescentaria benefícios enquanto ser humano e cidadão”, diz.
Segundo ela, os naturistas não fazem nada de errado ou criminoso, por isso não há motivo para se esconder. “Esta postura nos ajudou a mostrar para as pessoas que o naturismo também é uma escolha. Por isto sempre fomos respeitados e até invejados. Já ouvimos relatos de pessoas que adorariam conhecer melhor e praticar o naturismo, mas a vergonha, os tabus e os dogmas impostos pela sociedade tornam-se barreiras muitas vezes intransponíveis”.
O atual presidente da FBrN tem 49 anos e decidiu há quatro mudar a cara das férias. Como os filhos já estavam crescidos, era hora de uma viagem apenas com a esposa. Ele propôs, ela aceitou e então, com a ajuda da Internet, decidiram participar de uma reunião de um grupo naturista, em Goiás. “Depois daquele encontro, nunca mais deixamos de participar. Nos apaixonamos pelo naturismo e aqui estamos”.
José diz que nunca teve preconceito quanto ao naturismo. Mas quando se trata dos outros, resolveu usar uma tática fácil: a sinceridade. “Quando perguntam se sou naturista, respondo que sim e falo sobre o naturismo, sua filosofia. Com isso, geralmente tenho o respeito dos outros. Muitos dizem que não teriam coragem, mas respeitam a minha opção”.
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